Opinião Política | Leila Alexandre (PS) — Covid, união e liberdade

Esta semana, houve um comentador que escreveu “há demasiada unanimidade no ar. E isso é péssimo”. Relativizando o argumentário do autor, revejo-me totalmente na mensagem central. Em tempos de emergência, os consensos são necessários e exige-se união, mas a democracia não está suspensa. União e obediência não são a mesma coisa, como consenso e submissão não são a mesma coisa, como concordância e censura não são a mesma coisa, como propaganda e verdade não são a mesma coisa.

A unanimidade é como as maiorias absolutas, as listas únicas ou aquele grupo de funcionários que a tudo diz que sim: tão útil quanto inútil. Isto é, a unanimidade é útil na medida em que legitima e empodera qualquer decisão e facilita simultaneamente os processos, mas torna-se inútil quando cria rotina e desleixo e quando não reflete a realidade. Os líderes precisam do contraditório. Se tudo está ou aparenta estar sempre bem, perde-se o sentido de alerta – e se alguma vez precisamos de decisores em alerta, é agora.
Repito: a democracia não está suspensa. Não está suspenso o direito a ter opinião, a exprimir essa opinião, a contradizer, a questionar, a alertar, a querer saber, a pensar fora do quadrado. A agitar as águas da quietude.

Neste período de pandemia, pedem-nos união, mas confundem união com tudo o que ela não deve representar. União será lutar por um objetivo comum, mesmo que se defendam caminhos diferentes; união será reclamar, contradizer, perguntar até se chegar à melhor solução; união é dar o braço a torcer, fazer cedências, reconhecer erros, agradecer pelo que resulta.

Unidos ultrapassaremos este período e acredito que todos somos parte de um cenário menos negativo no nosso concelho, mas não devemos estar calados. A quietude assusta-me.


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